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Entrevista a Nero (7) — pelo antropólogo, fotógrafo e poeta Pedro Pinto Basto

  • Outro
  • 15 de abr.
  • 4 min de leitura
Nero em evento literário em Lisboa, setembro de 2024.
Nero em evento literário em Lisboa, setembro de 2024.

Pedro Pinto Basto é contador de histórias, seja através de imagens seja com o recurso à palavra. Estudou Fotografia e licenciou-se em Antropologia. Neste momento, desenvolve um projeto no Oeste de Portugal que tem como base as memórias individuais e coletivas da população de uma aldeia. Escreve poesia.

Coloca as seguintes questões:


1 — De que forma a profissão que tens influência a tua escrita? Assumirei como profissão o meu dia a dia enquanto professor. A escrita é anterior à profissão, embora a ideia de professor tenha nascido primeiro do que a ideia de ser escritor ou poeta. Cursar Língua, Literatura e Cultura (tinha eu dezassete anos) teve por base, no entanto, ambas as ideias. Tornar-me-ia professor e, ao mesmo tempo, obteria o conhecimento necessário para me tornar, acreditava eu, um melhor escritor. Essa formação, mais do que influenciar, terá definido a minha escrita. Penso que aquilo que escrevo será indissociável daquilo que li e estudei, daquilo que leio e estudo. Haverá metalinguagem quanto baste naquilo faço para que a denúncia se faça evidente.


A tua questão, no entanto, é outra. Não fazendo a assunção de que influencia, jamais terei como te dizer que não. Tudo influenciará. É provável que venha a influenciar mais em livros futuros do que para já, uma vez que não assumi esta profissão assim há tanto tempo, apesar de ser uma vocação minha e um sonho de criança. O facto de continuar a trabalhar a língua e a literatura diariamente terá, acredito, reflexos incontornáveis a médio e longo prazo; da mesma forma que, para aqueles médicos-poetas, a medicina lhes influencia as escolhas lexicais ou temáticas e o olhar peculiarmente cirúrgico.

2 — Tens alguma "rotina de escrita", ou seja, há algum espaço e hora do dia que te seja mais favorável para escrever? Não tenho. Quando sinto a pulsão da escrita (a necessidade de fazer nascer um livro, por exemplo, com um determinado conceito), aí sim, entrego-me com uma disciplina que será efetivamente disciplina, para quem me rodeia. Para mim, é apenas uma forma natural de me respeitar e de cumprir a vontade que tenho de escrever — e que é de intensa e compulsiva entrega. Não há horas nem dias, quando é o momento ou a altura de escrever os meus poemas. É desde que acordo até que adormeço e, por vezes, mesmo enquanto durmo me assaltam os poemas. O espaço é, preferencialmente, o meu escritório, com uma janela a sul, com o sol de frente e com um gato por perto. Às vezes, nascem-me poemas avulso, que vou colecionando. Em comum com os outros terá uma estabilidade emocional que geralmente apenas encontro nos dias vazios de afazeres e de preocupações.

3 — Consideras que saber escrever é um dom, um fardo, ambos ou nenhum deles? Porquê? Haverá alguma predisposição genética? É possível que sim, embora não me pareça ser esse o meu caso. É preciso uma sensibilidade apurada, uma afinidade com as palavras e uma perícia que se faz com a prática. É preciso querer saber e querer escrever. Depois, querer saber escrever. E é preciso fazer. Ler, escrever, ler bem para escrever bem.

Entendê-lo como um dom significaria acreditar que algo ou alguém faria essa dádiva. Não me parece ser, novamente, o meu caso. Não tenho conhecimento suficiente para poder afirmá-lo. Quanto a ser um fardo, porque o seria? Se é um fardo, porque não parar de escrever? Só houve uma altura na minha vida em que escrever me foi um fardo. Mas lá está... não era propriamente o escrever, era o ter de escrever. Todavia, ultrapassar esses bloqueios talvez seja uma fase necessária para passar da ideia à concretização. A boa escrita não nasce num estalar de dedos.

4 — Como é que chegaste até à temática do novo livro? Foi de alguma forma diferente em relação às temáticas dos anteriores livros? Já quando estudava em Silves, tinha quinze-dezasseis anos, projetava escrever alguma coisa sobre a presença árabe por cá. Para quem pisa estas pedras, esta herança está muito presente. Não me refiro apenas ao revivalismo mais ou menos folclórico de uma feira medieval, que também aprecio. Refiro-me às estátuas, aos nomes das ruas e das localidades, à flora, à língua, a vários costumes, aos edifícios, aos achados arqueológicos, às lendas etc.

Quando, por ocasião do Telúria, voltei às raízes. o passo na direção deste Akbar — Lunário Poético duma Alma ainda Árabe tornou-se, para mim, muito intuitivo e natural, como continuação de uma viagem espiritual em busca de mim mesmo. O meu apreço pela história e pela cultura conjugaram-se na produção deste novo livro, que por estes dias já se folheia nas mãos de muitos leitores. Também já te terá chegado o exemplar; que o aprecies. Espero que convide muitos a redescobrir a História do nosso país e a percecionar a influência árabe a outra luz, de quando em vez apenas entrevista por arabistas, aparentemente.

5 — Se pudesses escolher algum escritor para ter uma conversa, qual seria? (Vivo ou morto.)


Camões, Pessoa, Tolkien, Verlaine, Antero... apenas para mencionar alguns.


Instagram de Pedro Pinto Basto: @pedropbasto

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