Entrevista a Nero (9) — pelo professor e leitor Filipe Miguel Araújo
- Roberto Simões
- 1 de nov
- 3 min de leitura

Filipe Miguel Araújo nasceu a 6 de janeiro de 1981, na cidade de Viseu (Portugal), local onde ainda hoje reside com a sua esposa e dois filhos. É professor do 1º ciclo do Ensino Básico, estando ligado ao ensino desde 2003. Após uma fase de escrita poética por volta dos 20 anos, reacendeu em 2024 o gosto pela escrita, tanto em poesia quanto em prosa. Neste último ano, publicou um conto infantil e alguns poemas em coletâneas, tendo ainda colaborado da Newsletter do Clube de Leitura Transatlânticos. Atualmente, encontra-se no processo de publicação dos seus dois primeiros livros a título individual, um dedicado à literatura infantojuvenil e outro à poesia.
Leitor de Nero, coloca as seguintes questões:
FMA — A criação é um ato muito pessoal. No entanto, tem geralmente o intuito de ser partilhado com os leitores. Quando escreves um poema, sentes que o estás a fazer para os outros ou para ti?
N — Nada de mal haverá, por si só, no ato de agradar aos outros. Não obstante, não figura no topo das minhas prioridades. Ou, pelo menos, não creio que tenha vindo a figurar. Não resisto à metáfora da prostituição, a propósito, se der por mim a pensar no que será escrever para agradar a um público, pura e simplesmente. A melhor escrita, como a entendo, e perdoem-me novamente a imagética sexual, será mais como uma espécie de masturbação, antes de tudo o resto. Primeiro, o que escrevo deverá agradar-me a mim, satisfazer-me a mim. Se me agradar, agradará ao público a que se destina. A procurar um público, será apenas ou sobretudo aquele que partilhar desta minha hierarquia de prazeres ou, se quisermos, aquele que partilhar desta minha visão do que deve ser a boa literatura. Sucintamente, é isto. Se agradar também a outro tipo de público, tanto melhor. Haverá sempre público para tudo; ainda que não em medidas iguais. A arte não tem de agradar a uma maioria ou, noutra perspetiva, de ser rentável. A melhor arte não deverá depender de critérios de "gostabilidade" ditados por maiorias. Resisto a qualquer pressão ou gosto de acreditar que resisto. Sob este prisma, a diversidade assenta-lhe, à arte, muito bem.
FMA — Consideras-te um poeta inspirado e espontâneo, do qual os versos escorrem facilmente, ou tens um processo criativo que te ajuda na conceção do poema?
N — Dias há em que os versos se talham com maior espontaneidade. Outros há em que não. Os versos de uns dias e de outros merecem-me sempre a ponderação e o buril. Contudo, dir-te-ia que a maior parte daquilo que escrevo conhece o crivo do intelecto, a escultura, o talho. O processo passa por algum isolamento no escritório (às vezes, poderá circular por lá um gato), muito silêncio a sós com os sons e as palavras, com as ideias e as hipóteses de poema.
FMA — Como professor, sentes que tens conseguido passar a mensagem e o prazer pela leitura (ou escrita) e, acima de tudo, por ser muitas vezes mal compreendida, pela poesia?
N — Espero que sim; quero acreditar que sim; gosto de acreditar que sim. O retorno que tenho recebido de alunos, de pais — até de colegas — é pleno de entusiasmo, mas não me cabe o deslumbramento. É ainda muito cedo. Esse tipo de respostas só vem (quando vem) com o tempo. Sementes há que germinam. Falo por mim, do aluno que fui e do meu percurso até aqui. Espero estar a fazer alguma coisa bem feita, nesse sentido. Perguntas-me se sinto? Sinto, sinto que sim, mas não tenho como ter a certeza. Fica a esperança.
FMA — Com um poemário tão diverso, mas em cada livro tão marcado por uma temática, o que te poderá inspirar num próximo projeto?
N — Depois de cruzar a alta fantasia moderna com os moldes da epopeia clássica no Oceano — O Reino das Águas (2021), de deambular por entre raízes autobiográficas, entre o campo e a cidade, e desejos de transcendência cósmica no Telúria (2023) e de propor um entendimento histórico, religioso e cultural para a presença e para a herança árabe na Península Ibérica no Akbar — Lunário Poético duma Alma ainda Árabe (2025), o próximo livro concluirá aquela que designei por "Trilogia do Espírito" (iniciada pelos dois títulos anteriores) e terá por inspiração a cosmogonia tupi-guarani; terá como fundo a Amazónia.

Obrigado, Filipe, pela generosidade das tuas perguntas.
Instagram de Filipe Miguel Araújo: @filipemiguelaraujo




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